Série: Alicerces da Verdadeira Fé (Parte 4)

SOLA GRATIA: Adorando ao Deus Trino pela salvação recebida pela graça


A Reforma Protestante foi um movimento eclesiástico de retorno às Escrituras Sagradas, foi a ação de Deus, o Senhor da Igreja, purificando o seu povo e restabelecendo a Sua vontade sobre sua Igreja. Os reformadores foram fieis à Palavra de Deus, buscando uma interpretação próxima ao contexto histórico e significado das palavras do texto bíblico. O método hermenêutico adotado pelos reformadores foi o histórico-gramatical. A partir desta hermenêutica, estabeleceram os pilares sustentadores de toda a teologia bíblica: Sola Scriptura (Somente a Escritura); Solus Christus (Somente por Cristo); Sola Gratia (Somente a Graça); Sola Fide (Somente a Fé); Sacerdócio Universal dos Crentes; Sola Deo Gloria (Somente a Deus toda Glória). Nesta série expomos um a um sobre estes alicerces que sustentam a verdadeira fé. Hoje nos concentraremos no Sola Gratia – Somente pela graça. 

A doutrina da graça defende que a salvação se dá somente pela graça soberana e amorosa de Deus, em Cristo Jesus. A salvação é pela graça, não pelas obras. A salvação do povo de Deus é uma ação exclusiva e integral do Deus Trino. Mas, o que é graça? Paulo usa a palavra “graça” para significar o oposto de “obras e méritos”. (Ef 2:8-9) Graça significa favor imerecido ou favor dado sem que seja ganho por esforço algum. A graça de Deus é o ato de o Senhor dar aquilo que o homem não merece – Vida Eterna (Salvação – um dom imerecido, que não pode ser rejeitado). A graça de Deus envolve um aspecto comum e especial – a graça comum (expressão da bondade e providência de Deus sobre todos), e a graça especial – aquela destinada apenas aos Seus eleitos. (Gn 33:8,10,18; 39:4; 47:25; Rt 2:2; 1Sm 1:18; 16:22; At 4:12; 1Co 1:10; Gl 2:21; Ef 1:6,7; 2.7-9; Tt 2:11; 3:4-7; Rm 11:6; 4:4-5). 

O amor de Deus aos seus eleitos o impulsiona a exercer misericórdia e graça sobre eles. Misericórdia é aplicada a alguém em dificuldade ou em derrota, recebendo assim um benefício. Misericórdia sempre pressupõe uma pessoa em sofrimento, enquanto graça sempre pressupõe indignidade na pessoa que recebe misericórdia. Misericórdia é o ato de Deus não dar o que o pecador merece: morte eterna. Graça, como afirmamos, é o ato de Deus dar o que este pecador não merece: vida eterna. 

Os reformadores defenderam veementemente que graça e mérito são conceitos opostos e excludentes. (Rm 11:6). Todos os pecadores são indignos da graça e não se pode trabalhar por ela. Deus derrama sua graça livremente sobre aqueles a quem Ele decidiu derramar graça. Deus não é obrigado a agraciar a todos. A graça depende dele, não dos pecadores indignos. 

A Escritura nos ensina que a graça de Deus é: eterna (2Tm 1:9; 1Pe 1:18-20; Ap 13:8; 17:8; Tt 1:2); riquíssima (Ef 2:6-7); soberana (Rm 5:21; Hb 4:16); absolutamente livre de qualquer influência, não pode ser ganha por mérito ou perdida por culpa do próprio homem; nada há que possa derrotá-la, uma vez que ela foi dada dependendo apenas de Deus. 

Desta maneira, a graça não pode ser alcançada pelas boas obras. Ela é absolutamente livre de toda a nossa influência, ou então não é graça de modo algum. A salvação é totalmente gratuita! (Jr 31:3; Rm 5:14,17,21). 

A graça vence o pecado, a vida derrota a morte. Isto quer dizer que, aqueles a quem Deus salva por sua vontade misericordiosa, certamente estão totalmente salvos. A graça reina soberanamente! Pois, se a salvação depende das obras do homem pecador, este seria salvo por seus próprios méritos, sem necessitar da graça. Neste caso, quem reina é o mérito e orgulho humanos, nunca a graça. A salvação pelas obras proporciona o orgulho no coração humano. Mas, a Bíblia diz que a graça reina! A graça é o único meio de salvação para o povo de Deus, pela misericordiosa vontade de Deus. Assim, Deus não apenas começa, mas continua e completa a salvação do pecador eleito. Toda glória somente a quem? A Deus! Temos que afirmar que essa doutrina glorifica ao Deus da Palavra, nosso salvador, e não aos indivíduos salvos! 
Esta doutrina maravilhosa também afirma que a salvação pela graça está fundamentada na obediência perfeita e meritória de Cristo Jesus! Ele, e somente Ele, conquistou a salvação para os seus escolhidos através do mérito de sua obra redentiva e expiatória. 

Percebe-se que o plano maravilhoso de Deus em salvar o Seu povo tem muitas características que abrilhantam a obra de Cristo e glorificam cada vez mais a Deus.

 Entre estas características, citamos apenas três: 
a) A Salvação é um fato real: A salvação dos eleitos de Deus não é uma possibilidade, mas sim uma realidade conforme a vontade e propósitos divinos, soberanos e eternos, manifestados no tempo e executados pela Santíssima Trindade. A salvação idealizada na mente de Deus na eternidade não é algo que pode acontecer ou não, ou algo que Ele “gostaria” que acontecesse, pelo contrário, é algo tão certo de acontecer, é tão real quanto o Ser e a perfeição de Deus. A salvação é garantida pelo sucesso e perfeição da obra de Cristo e um pleno direito concedido por Deus aos eleitos. (Dt 30:6; Ez 11:19-20; 36:26-27; Jo 6:37,44-45; At 26:18; Rm 8:2; 11:17; 1Co 2:10-12; Fp 4:13; 2Ts 2:13-14; 2Tm 1:9-10). 

b) A Salvação é definitiva: Outra característica fundamental da salvação dada ao povo de Deus é o seu caráter definitivo, isto é, não é preciso hoje mais nada para concluir, aperfeiçoar, remendar ou consertar esta maravilha das mãos de Deus. Cristo veio para obter definitivamente a salvação ao seu povo. (Mt 1:21; Jo 3:16; 2Co 5:21; Gl 4:1; 1Tm 1:15; Hb 2:14-15). Este propósito salvífico foi cabal e perfeitamente cumprido na cruz de Jesus Cristo. (Jo 10:27-28; Cl 1:21-22; Hb 1:3; 9:12-14; 1Pe 2:24; Ap 5:9-10). Portanto, não há mais nada que o crente precise fazer para obter a salvação, ou para confirmá-la. A salvação é definitiva, final, perfeita e gloriosa. A salvação não pode ser comprada, adquirida por rezas, promessas, pagamentos de promessas, campanhas de oração, etc. 

c) A salvação independe das obras: Ninguém foi escolhido, justificado, regenerado, convertido, (é) santificado ou glorificado pelas suas próprias obras. Antes, todas as dádivas salvíficas ao povo escolhido advêm das santíssimas mãos de Deus exclusivamente pela Sua graça. O próprio amor de Deus é fruto da Sua graça e misericórdia. (Rm 9:15-16; Ef 2:4-9,13; Tt 3:4-7). Assim, podemos afirmar que a base bíblica que temos para esta maravilhosa verdade repousa no amor e na graça de Deus aos Seus escolhidos. (Sl 34:15-16; Jo 3:16; Rm 5:8; Ef 1:4) 

A eleição do povo de Deus para salvação – o ponto onde inicia o ato salvífico da parte de Deus – é incondicional, isto é, ela não depende de modo algum da fé ou das boas obras previstas por Deus nos homens, mas somente e exclusivamente do beneplácito (consentimento) gracioso do Senhor. A eleição eterna não depende de nada que o homem (pecador) faça, por mais belo ou elogioso que pareça. Deus, portanto, não salvou alguns homens porque eram bonzinhos ou porque Ele sabia que iriam crer. Ele os escolheu porque os amou, independente deles e dos seus pecados. A salvação é resultado da graça, e se é da graça, não dependente de qualquer coisa boa que pudesse existir nos homens, e de fato não existia, pois, o Senhor elegeu alguns para serem aquilo que não eram: santos e irrepreensíveis. (At 13:48; 15:11; Rm 9:11,16,23; 11:4-7,12; 1Co 4:7; Ef 1:4-17; 2:8-10; 2Tm 1:9; 2:21; Tg 2:5; 1Pe 1:2). 
A salvação é gratuita, isto é, a justificação acontece sem a necessidade de pagamento por parte daquele que o recebe, sem qualquer mérito humano. (Rm 3:24-25; 1Tm 1:9; Tt 3:4). O mérito humano se faz impossível para se obter a salvação da parte de Deus. O homem não pode ganhar a bênção da justificação. 

Graça é a expressão do amor de Deus ao homem pecador e culpado pelo seu pecado. Deus ama o eleito ainda pecador e deseja salvá-lo. Isto é graça! Deus não exige nenhuma obra meritória do pecador para a sua salvação. Isto também é graça! A graça de Deus é a base sustentadora da justificação! Crer na justificação pelas obras é crer que estas obras são a base do mérito humano, o que é absurdo! 

Algumas implicações de modo a confirmar o que afirmamos acima: 
- O pecador está morto espiritualmente e totalmente incapaz de salvar-se sozinho, através de seus méritos, obras, religiosidade, devoção, etc. A única coisa que ele consegue é atrair cada vez mais a ira de Deus sobre si, por causa do seu pecado. 

- A salvação se dá pela obra de Cristo na cruz. A razão e o mérito de sermos salvos é somente dele. 

Na salvação somos por Cristo resgatados da ira santa de Deus única e exclusivamente pela graça. 

- Através da obra do Espírito Santo que nos redime, somos libertos da escravidão do pecado e trazidos à vida espiritual através da regeneração e conversão, capacitando-nos assim à fé e ao arrependimento. Este dois – fé e arrependimento – são necessariamente resultados da graça regeneradora. 
A salvação não é obra humana – é obra divina! 

O que deve existir em nosso coração quando aprendemos esta doutrina bíblica? Todo mérito da salvação não é nosso, e sim unicamente da Santíssima Trindade. A Ele toda glória! Toda gratidão ao Deus da graça é dos eleitos de Deus. Que Deus encontre em nosso coração e prática a adoração exclusiva a seu santo nome. Assim, todo o coração deve ser dedicado à glória, engrandecimento de Deus através da piedade, obediência, santidade, louvor e evangelização. À Santíssima Trindade toda glória pela nossa graciosa salvação! 

Por: Rev. Marlon de Oliveira. 

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