A graça irresistível é o chamado eficaz de
Deus para seus eleitos! Há uma óbvia relação entre os demais pontos do
calvinismo e este, que é o quarto. Se a doutrina da depravação total é
verdadeira, segue que o homem jamais terá fé se está não lhe for dada pelo
Espírito Santo. A depravação total resultou na morte física e espiritual do
homem: “Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe”,
Salmo 51:5, ou ainda em Romanos 3: 10: “como está escrito: Não há justo, nem
sequer um”. Partir, portanto, de uma antropologia acertada é fundamental para a
compreensão de como Deus opera seu chamado na vida dos crentes. Uma
antropologia desajustada com a Palavra de Deus, isto é, sustentada pela ideia
comum a todas as religiões ou filosofias sem Cristo, pressupõe falsamente que o
homem é basicamente bom e aperfeiçoável pelos seus próprios esforços e que a
corrupção deriva da sociedade. John Locke, o filósofo inglês do século XVII,
dizia que “o homem nasce bom e a sociedade o corrompe”.
Já uma antropologia bíblica, ajustada ao
Conselho de Deus, mostra que o homem é totalmente incapaz de salvar a si mesmo
ou por qualquer força, seja ela política, filosófica, religiosa (sem Cristo) ou
científica. Para homens mortos em pecado, apenas o Espírito Santo pode assegurar
a verdadeira redenção e a nossa reconciliação com Deus: “Ele vos vivificou,
estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais outrora andastes,
segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do
espírito que agora opera nos filhos de desobediência, entre os quais todos nós
também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e
dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como também os demais.
Mas Deus, sendo rico em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou,
estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo
(pela graça sois salvos) ...”, Efésios 2:1 ao 5. Assim como acontece com os
outros pontos dos chamados “Cinco Pontos do Calvinismo”, a doutrina da Graça
Irresistível é mal compreendida, seja por desonestidade intelectual ou por
submissão a uma teologia fraca. Agostinho, o grande teólogo do quarto século da
era cristã, tratou da irresistibilidade da graça de forma brilhante, ele
associou a operação da graça sobre a vida do crente com a beleza de Deus, o ser
mais belo que há. Sua concepção é claramente bíblica e se baseia na doutrina
paulina exposta em várias de suas cartas, especialmente Romanos, Gálatas e
Efésios. Para Paulo, Agostinho, Calvino e outros grandes homens de Deus o peso
mortal do pecado original escravizou o homem e o tornou morto espiritualmente e
inimigo declarado de Deus. Assim, este homem morto em delitos e transgressões
não pode jamais inclinar seu coração livremente para Deus e sua Lei. A
distorção a que me referi acima, é a ideia popularmente disseminada de que a
doutrina da graça irresistível é operada por Deus com o uso da força, que num
ato de violência traz para si o pecador, amarrado e amordaçado, sem
possibilidade deste pecador resistir ou rejeitar.
Eles se esquecem que a vontade de Deus ao
chamar pecadores para si é muito mais um ato de sobrepujar toda vontade através
da sua, um atributo da divindade conhecido como onipotência, do que impedir a
rejeição ao chamado do Espírito. Se assim não fosse, todos atenderiam ao
chamado irresistível, exatamente por ser irresistível. Ou, então, Deus, como um
tirano, arrastaria debaixo de chicote homens para si! Homens resistiram,
resistem e resistirão à graça irresistível, a rejeitam sumariamente e ao longo
de toda a vida. Para isso foram postos, como Pedro afirma em 1Pedro 7e 8: “E
assim para vós, os que credes, é a preciosidade; mas para os descrentes, a
pedra que os edificadores rejeitaram, esta foi posta como a principal da
esquina, e: Como uma pedra de tropeço e rocha de escândalo; porque tropeçam na
palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados”, ou ainda em
Marcos 4: 11,12: “E ele lhes disse: A vós é confiado o mistério do reino de
Deus, mas aos de fora tudo se lhes diz por parábolas; para que vendo, vejam, e
não percebam; e ouvindo, ouçam, e não entendam; para que não se convertam e
sejam perdoados”. Os dois textos, além de outros tantos ao longo da bíblia, não
deixam nenhuma dúvida que a irresistibilidade da graça é eficaz apenas para os
eleitos para salvação! O chamado de Deus é tão profundo e tão belo, que os
eleitos jamais poderão resistir. Ele nos atrai tão docemente para si, subjuga
sem violência nossa vontade, restaura amorosamente sua Imagem em nós e nos redime
tão poderosamente que nada pode impedir seu querer e seu efetuar. Somos
atraídos para o mais belo e necessário amor e, assim, feitos filhos e herdeiros
com Cristo. Se não fosse desse modo, jamais inclinaríamos nosso coração para
Deus e sua Palavra-lei, pois mortos não escolhem e nem têm livre arbítrio! Um
cristão deveria bradar em uníssono como Jonas: “Ao senhor pertence a salvação”
(Jonas 2:9)!
Até o próximo capítulo.
Até o próximo capítulo.
Escrito pelo nosso colunista pastor: Davi Peixoto.
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